sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Sexo, Gênero e Sexualidade


Sobre os temas sexo e gênero, Parveen ADAMS é esclarecedora: devem ser entendidos, sem grandes dificuldades, em função da naturalidade do sexo e da natureza construída do gênero. O sexo pode ser pensado em termos biológicos; o gênero, em termos sociológicos. A introdução da teoria psicanalítica significa a abertura de um espaço entre sexo e gênero para mais uma realidade, a realidade psíquica.

A psicanálise fala de sexualidade, que por outro lado pode ser pensada em termos biológicos e sociológicos, mas nenhum dos dois casos coincide com o conceito de Freud: pulsão que habita ou determina o espaço da realidade psíquica. Adams defende a tese de que a teoria freudiana encontra um sentido em que a sexualidade está ligada de modo irremediável ao sexo biológico e ao gênero sociológico.


Nas análises contemporâneas da relação da psicanálise com a política, o real não tem lugar. O físico e o social são concebidos como uma unidade compactada e regida pelo princípio do prazer. Joan Copjec, editora da revista October, propõe-se a mostrar que o real é o que une o psíquico ao social, e que essa relação é causal e governada pela pulsão de morte. Porém, adverte, a definição de causa que depende e é produzida pela pulsão de morte não é uma definição familiar.

Parveen Adams faz conferências sobre Psicanálise, é co-fundadora e co-editora da publicação feminista m/f, e editora de Language in Thinking; Joan Copjec é uma editoras na revista October sediada em Nova York, e tem publicado assiduamente sobre feminismo, psicanálise e cinema.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O Dimorfismo Sexual

Os sexos diferem no que diz respeito a organização reprodutora, aos aspectos da constituição hormonal, e provavelmente no tamanho, potencia e resistência física. Entretanto, a biologia humana requer cultura humana, neste sentido, a diferença biológica torna-se muito importante quando interpretada pelas normas da cultura e da sociedade humana.

A força e as atividades masculinas parecem ser valorizadas em todas as culturas, mas as atividades e os sentimentos humanos não são diretamente organizados pela biologia, mas sim pela interação das tendências biológicas com as várias expectativas culturais específicas, os esquemas e símbolos que coordenam nossas ações e permitem nossa sobrevivência.

O que é ser homem ou mulher dependerá, então, das interpretações biológicas associadas a cada modo cultural de vida. É através da utilização de formas simbólicas, como a linguagem, no contexto de uma cultura específica e sob a influência de diferentes formas de ações, que “o homem como animal é capaz de interpretar e alterar sua constituição biológica”.

Michelle Zimbalist Rosaldo observa que o conhecimento especulativo usado para a diferenciação das atividades masculino-femininas, que se constitui como tendência que influência a ética dominante do masculino, é reflexo da herança sociocultural das adaptações primitivas (formas sociais primitivas). Fatores biológicos como a amamentação, associam à mulher a criação dos filhos e a responsabilidade sobre o lar. Em agrupamentos socioculturais semelhantes, as funções físicas femininas, a cultura específica e as diferentes formas de ação das mulheres são associadas a natureza.

Sendo vista como mais natural e menos cultural, seu papel doméstico e sua personalidade são combinados para estimular definições culturais que enfatizem aquelas funções físicas femininas associadas à natureza, no que esta tem de valor negativo - o que pode sugerir uma relação não-humana do ser feminino, possibilitando a partir daí um fundamento cultural lógico para a desigualdade; para a sua subordinação ao papel maternal e doméstico como tendência biológica ou evolutiva; e para a sua exclusão de esquemas culturais de transcendência.

Rosaldo questiona sobre a razão por que perduram até a atualidade essas tendências associadas a adaptação primitiva do homem? Se nas sociedades primitivas a limitação dos movimentos das mulheres ocorria muito em função do trabalho na coleta e criação dos filhos, em oposição às atividades cooperativas dos homens caçadores; para as sociedades atuais perdurou o sentido de oposição, mas em relação a um papel público que lhe garantiria autoridade, prestigio e valor cultural.

Michelle Zimbalist Rosaldo e Louise Lamphere (coord). A Mulher, a Cultura e a Sociedade: Uma revisão Teórica. In:A Mulher, a Cultura e a Sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 1979 (Coleção O Mundo, Hoje)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Feminismo, palavra descartada (Mas apenas a palavra)



Marina Colasanti teve uma atuação importante, como jornalista, no sentido de esclarecer e dar maior consciência às mulheres brasileiras quanto à sua condição. Nas décadas de 70/80, quando a barra era mais pesada, a ação feminista de Marina, tanto na imprensa como nos livros sobre o assunto que ela publicou, ajudou a modernizar os costumes por aqui.


Nos anos 90/00, já afastada do jornalismo diário, Marina Colasanti se afirmou mais como escritora de literatura, publicando livros de contos e poemas de excelente nível. Como interessada direta nessa questão de mulher - claro, principalmente literatura da mulher - resolvi fazer algumas perguntas a Marina a respeito.


SC - Você, Marina, pioneira de uma nova defesa dos direitos da mulher no Brasil, acha que ainda tem sentido falar em feminismo agora? Será que o assunto não entrou demais na mídia e virou clichê?


MC - Essa palavra, "feminismo," foi descartada ideologicamente no encontro de Beijing e com ela descartou-se o perfil das ações que, de estritamente ligadas às questões femininas, passaram a ser voltadas para as questões de gênero e, de uma maneira mais geral, de cidadania. Não foi um desgaste provocado pela mídia, foi uma mudança política.


SC - Que postura, em linhas gerais, você tem agora, com relação aos direitos da mulher brasileira?


MC - Trabalhei mais diretamente com essas questões enquanto estive na ativa como jornalista. Há anos estou afastada da redação e as solicitações para tratar desses temas são cada vez mais esporádicas. De todo modo, continuo atenta, preocupada com o quase esquecimento em que caíram assuntos importantes e inquieta com uma nova alienação que brota entre as jovens.


SC - Em particular, qual a sua postura com relação aos direitos da escritora brasileira hoje? Acha que ainda é marginalizada?


MC - Marginalizada não me parece a palavra exata. Preconceitos existem, mas certamente são menos flagrantes hoje do que ontem. O mercado está aberto para as mulheres, não só porque reconhece o valor dos seus textos, como porque sabe, através das pesquisas, que as mulheres são, disparado, as maiores consumidoras de livros de ficção e poesia. Talvez a crítica não esteja tão livre de preconceitos quanto o mercado.


SC - Ainda tem sentido organizar, agora, coletâneas de literatura feminina?


MC - As coletâneas não estão à procura de sentido, estão à procura de público. São fenômenos de mercado. No livro "Fragatas Para Terras Distantes," que lancei no fim do ano passado, há um capítulo que trata diretamente dessas questões e da escrita feminina.


SC - O que você está escrevendo agora?


MC - No momento, estou revendo as provas finais de um livro novo, "23 Histórias de Um Viajante," e devo lançar este mês um novo livro de poesia, "Fino Sangue," pela Record.

(Entrevista concedida a Sonia Coutinho http://www.sidarta.blogger.com.br/2005_05_01_archive.html)

Gênero e Política


Em Jomtien, 1990, a Conferência Educação para Todos, com vistas a uma conceitualização crítica do Desenvolvimento, aponta a mulher como prioridade-chave para as ações da Educação de Jovens e Adultos no século XXI. Na Conferência Mundial sobre a Mulher, em Beijing, 1995, o debate sobre essa prioridade suscitou uma reflexão profunda sobre a inter-relação entre a educação da mulher e sua capacidade de ação.

As discussões, em diferentes regiões, línguas e espaços (escolas, sindicatos, partidos e movimentos sociais), e sobre uma diversidade de assuntos, envolvendo uma multiplicidade de instituições, temáticas e disciplinas contribuíram para a identificação e o esclarecimento sobre problemáticas, de forma a estabelecer os marcos referenciais de uma crítica da capacitação da mulher para a ação e da função da educação nesse processo.

Com base em trabalhos prévios desenvolvidos pela UNESCO através de seminários internacionais, surge a proposta de capacitação da mulher através da Aprendizagem de Adultos. É relevante fazermos uma síntese de certos aspectos dessa discussão e uma revisão dos marcos de referência da capacitação de adultos. Em Beijing, ainda que centrado no termo EMPOWERMENT, em diferentes partes do documento final da conferência pode-se apreciar diferentes significados para o vocábulo.

1. Sentido de AUTOCONFIANÇA INDIVIDUAL

2. Referência a FORÇAS COLETIVAS

Compreensões contraditórias? S. Longwe (1997) diferencia uma perspectiva alternativa da perspectiva conservadora que reconhece só um enfoque puramente econômico e individual, e segundo qual a capacitação para a ação é vista como a capacitação da mulher para sacar maior proveito da sua própria vida. Configurada como uma perspectiva radical, neste sentido a capacitação para a ação é sinônimo de geração de graus de mobilização e organização política adequados para a mulher estar em situação de tomar posse.

Longwe assinala que mesmo do ponto de vista mais tradicional, a mulher pode ser capacitada para a ação desde que tenha acesso a alfabetização, a educação e a aquisição de habilidades produtivas e capital, recursos que lhe estruturem o caminho; mas afirma ser limitada a visão que se basta no progresso individual, sem nenhuma perspectiva social do problema.

A perspectiva alternativa enfatiza a ação coletiva das mulheres a fim de reconhecer e abordar conjuntamente os problemas relacionados ao gênero que obstacularizam o desenvolvimento – tomado como contexto que implica a transformação da Sociedade Patriarcal através de um processo de esclarecimento, conscientização e organização coletiva, com fins a superação das tradições e atitudes patriarcais.

A criação da autoconfiança é a função que cabe a capacitação para a ação no contexto da transformação das estruturas, mas devemos ter em mente que ainda que a importância da capacitação seja a conseqüente melhoria na auto-estima da mulher, a educação implica em um processo cognitivo que tem lugar no nível do indivíduo, portanto deve ser igualmente considerado e analisado.

O objetivo, a transformação, não se limita a sociedade, visto que abarca igualmente o indivíduo e todo o complexo de suas relações, especialmente as referentes ao poder - termo desenvolvido pelas correntes marxistas, feministas, pós-estruturalistas e freirianas, importante por abordar e debater uma gama de significados, na medida em que possibilita uma visão global de diferentes fundamentos.

(MEDEL-ANONUEVO, Carolyn. Aprendendo sobre Justiça em matéria de Sexos: desafio a E.J.A. no Século XXI.)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Movimento para o século XXI


A teoria e a prática feminista chegam, em fins do século XX, a um projeto ambíguo que envolve a crítica das definições, das representações e teorizações existentes sobre a mulher, ao lado da criação de novas imagens e novas representações sociais compatíveis para a subjetividade feminina.

A mudança de foco observa-se sobre o trabalho dos historiadores que tomam como objeto o pensamento feminista: do afastamento da primitiva análise da condição feminina como centrada na mulher, que tomou como ponto de partida a definição de mulheres como sujeito empírico, para a aproximação do tipo de análise centrada no gênero. O materialismo primitivo da abordagem feminista radical, alinhado com a célebre fórmula de S. Bouvoir, tornar-se mulher, é substituído pela nova ênfase na materialidade de um sujeito feminino como entidade biocultural.

O impacto das teorias psicanalíticas de Lacan desempenhou um papel importante na reorientação das prioridades da agenda teórica feminista, pois tornou operacional a diferença sexual dentro da teoria feminista. Politicamente, deve-se começar pela afirmação da necessidade da presença da mulher na vida real, em posições de subjetividade discursiva, e teoricamente, como reconhecimento do primado das raízes corporais da subjetividade, deve-se rejeitar tanto a tradicional visão do sujeito como universal, neutro e sem gênero, quanto a lógica binária que sustenta essa visão.

A psicanálise marca a dupla mudança histórica que abre a era da modernidade: a crise da visão clássica do sujeito e a proliferação de imagens do outro como signo de diferença. Chega-se então a um consenso: da rejeição de qualquer postura pseudo-universalista que adota o masculino como regra, a amplitude de aceitação das posições sobre a diferença sexual.
Assim, as tendências recentes adotam o conceito de diferença como sinal de desejo de conhecimento da cultura ocidental, cuja importância preponderante está associada a entrada na era da modernidade, onde a diferença marca o afastamento da noção religiosa de sujeito racional consciente e também da avassaladora masculinidade de idéias como subjetividade e consciência.
Rosi Braidotti. A politica da diferença ontológica. in BRENNAN, Teresa. Para Além do Falo. Rio de janeiro: Record, 1997



segunda-feira, 28 de janeiro de 2008



Há tempos penso em escrever diariamente!
Este blog vem satisfazer essa vontade,
sem grandes pretensões.